Vilanova Artigas - Mais que nunca! - Homenagem de Tânia Galvão


ARTIGAS NO DUQUE

Este ano a comunidade arquitetônica comemora o centenário de João Batista Vilanova Artigas (1915-1985), data que possibilitou a ressonância do seu legado ao povo brasileiro, pois trabalhou por uma arquitetura livre, democrática e aberta, e neste momento, o país vive uma relação conflituosa nas apropriações dos espaços públicos e privados, instigando-nos a retomar seus conceitos de liberdade.

Formador da Escola Paulista de Arquitetura, o curitibano Artigas iniciou o curso de Engenharia Civil na Universidade Federal do Paraná em 1933. Entretanto, no uso de suas convicções, mudou-se para São Paulo e se graduou arquiteto-engenheiro pela escola politécnica da USP (1937).
Em 1944 abriu seu escritório e à medida em que projetou diferentes espaços, alinhou-se à 
diversas fases de trabalhos, uma delas caracterizada por forte influência do americano Frank 
Lloyd Wright. 
Diz-se que Artigas chega a Wright com base no pragmatismoconstrutivo politécnico. 


Arquitetura para 1000 anos - Teatro Municipal de  Londrina - PR


Nossa relação com o mestre se iniciou de maneira prosaica, pois a primeira vez que chegamos à Londrina – cidade que tem um acervo importante de sua autoria – no final do80s, desembarcamos na mais moderna rodoviária do país. Não tínhamos consciência disso, tampouco da relevância de seu trabalho, ideia que foi, na graduação em arquitetura na UEL, apresentada e apreendida. 

 Imediatamente tivemos a noção do tamanho de seu pensamento e obra, e se tornou o grande mestre para as ações arquitetônicas, políticas e sociais. As obras de Londrina foram concebidas, segundo o próprio autor, “ao sabor da época”, revelando a sintonia que estabelecia com as vanguardas modernas, nas figuras de Le Corbusier e Oscar Niemeyer. 



No verso da canção “Tropicália” (1967), “o monumento não tem porta”, Caetano se referia aos palácios de Brasília de Niemeyer, mas a expressão é também a síntese metafórica da obra arquitetônica de Artigas, sobretudo em seu edifício mais importante, a Faculdade de 
Arquitetura e Urbanismo da USP.  A FAU é conhecida como o edifício manifesto contido numa utopia de cidade, de sociedade, de nação. De fato, não tem portas, é livre, de acesso irrestrito, é de todos e para todos! Sua porção central é a praça, encerrada por caminhos, rampas, como se a cidade estivesse incorporada em seu interior, onde a luz natural banha seus espaços. A cidade está lá. Nesse momento não apenas projetou uma escola de arquitetura, mas se estendeu à revisão pedagógica, reformulação e revolução que acabaram influenciando grande parte dos cursos de arquitetura do país, incluindo o da UEL.





FAU
Foto: Fernando Stankuns
A força de sua fala, o domínio do discurso artístico e sua militância resultaram num conjunto 
de obras constituídas solidamente, que atingem, sobretudo nas obras paulistas, uma linguagem própria, forte e característica de quem atuava nos campos político e profissional, 
indistintamente.
Construía em concreto, num país onde a maior parte da arquitetura é feita de materiais que 
em pouco tempo se deterioram. Construir com o concreto é construir para a eternidade e o 
que está por trás dessa ação é um pensamento clássico, uma arquitetura para durar mil anos. 

Foi um autor que fazia arquitetura com arte. Em certa ocasião mencionou que, dos direitos dos cidadãos, o mais importante é o direito à beleza.

Cassado pela ditadura, exilou-se por um ano no Uruguai e perdeu seu cargo de docente na 
maior universidade do país, que sucumbiu aos militares. Em 1984, nas aulas que deu em forma de arguição no concurso para professor titular na FAU/USP, definiu com agudeza poética a essência de sua arquitetura:


"Quanto a mim, confesso-lhes que procuro o valor da força da gravidade, não pelos processos de fazer coisas fininhas, uma atrás das outras, de modo que o leve seja leve por ser leve. O que me encanta é usar formas pesadas e chegar perto da terra e, 
dialeticamente, negá-las."



Sua obra é monumental e eterna e sua mensagem, revolucionária. Junho de 2015 possibilitou 
a ressonância de seu legado: uma arquitetura livre, democrática, bela e coletiva. Nos dias 
atuais clamamos por essa filosofia. Viva Artigas!


tânia nunes galvão verri
arquiteta e professora

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